quinta-feira, 31 de maio de 2012

Protesto pacífico: “Abraço ao Centro de Convenções”

Ana Echevenguá

Canasvieiras espera, há tempos, pela construção do Centro de Convenções. Um projeto que foi pensado e exigido pela comunidade. E que poderá alavancar, além de emprego e renda para o norte da Ilha da Magia, maior ingresso de verba nos cofres públicos.
A obra foi embargada. Após, ocorreram 2 solenidades acenando com o reinício das obras. Uma, em dezembro de 2011, na qual o atual governador assinou um protocolo de intenções. Na outra, em março de 2012, foi assinada uma ordem de reinício das obras.
Mas, até agora, só temos o esqueleto do prédio, poluindo visualmente a entrada de Canas... e várias promessas dos governantes!
Então, após várias reuniões e reivindicações, a liderança comunitária decidiu fazer um protesto pacífico: um abraço ao Centro de Convenções. Segundo Marne Schoroeder, proprietário do Hotel Moçambique, “o objetivo deste abraço é chamar atenção da sociedade para o desperdício do dinheiro público e falta de interesse em atender uma região que é o carro-chefe de Florianópolis porque acolhe a maior parte dos turistas que nos visita, bem como para a falta de emprego e renda da população local que ultrapassa a 100 mil habitantes”. Para ele, “este equipamento vem trazer não só emprego e renda, mas possibilitar o desenvolvimento cultural no segmento do cinema, teatro, pintura, floclore...”.
Schoroeder aponta outro aspecto importante para a economia local: “o que vem a cada dia morrendo é a procura pelas nossas praias, devido à poluição constante, embora o turista ainda busque o nosso conjunto de belezas naturais, em que a Ilha é diferente de outras cidades. Mas, erroneamente, nossos planos e projetos estão embasados unicamente nas praias. Portanto, este equipamento - que vem sendo protelado há mais de uma década -, pode ser mais um atrativo ao turismo e oferecer à população de toda Florianópolis melhor qualidade de vida. Infelizmente, os nossos políticos tem visão até a distância em que fazem xixi”.
No sábado, dia 02 de junho de 2012, 11hs da manhã, vista esta camiseta. Participe desta manifestação pacífica. Venha colaborar com as pessoas de bem que estão preocupadas com o crescimento sustentável de Florianópolis.
Centro de Convenções já! Um projeto que significa – acima de tudo - emprego e renda saudável e honesto para nossos filhos.


Ana Echevenguá - advogada ambientalista - OAB/SC 17.413

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Canas e a Casan

Ana Echevenguá
Estávamos no alto do Beiramar Shopping. Admirando a beleza do entardecer na beira-mar norte de Florianópolis-SC; olhando o mar, a vegetação, o contorno dos morros... um verdadeiro cartão postal. Marina disse-ME:

- Como tudo isso aqui é lindo, Ana!
- Sim, apesar de ninguém ter coragem de colocar o pé na areia ou naquela água! – comentei.
- Ai, Ana, não estraga o meu prazer!!

Fiquei em silêncio. As pessoas que visitam a Ilha da Magia comportam-se assim: curtem a exuberância da Mãe Natureza. Mas não percebem que os problemas ambientais recrudescem vertiginosamente.

A beira-mar norte, apesar de sua revitalização, continua com a areia e água interditadas. Uma interdição de fato porque ninguém tem coragem de colocar o pé ali. E ninguém tem coragem ou vontade de falar a respeito.

E esta situação está se alastrando... Na alta temporada de verão, os dados oficiais sobre a balneabilidade apontaram que mais de 50% de nossas praias estavam impróprias para banho. Ou seja, estamos à beira de uma interdição de fato de todas as nossas praias. A maior parte dos moradores de Canasvieiras, por exemplo, não frequenta a praia no verão. Por quê? Porque sabem das mais variadas doenças gastrointestinais que são contraídas após um banho de mar. Ou depois de um simples passeio nas areias da praia.
E, da mesma forma, poucos falam a respeito disso... ou quando falam, aceitam passivamente os números da poderosa CASAN.
Preparem-se para o pior: com os novos projetos que estão sendo implementados, a Estação de Tratamento da Cachoeira, que já é ineficiente no tratamento do esgoto que ora recebe, vai receber o esgoto de Jurerê Tradicional e do bairro dos Ingleses. Sem falar que, desde o ano passado, está recebendo o esgoto do bairro Cachoeira e de Ponta das Canas (eu acho!).

Mais uma das tantas provas de incapacidade técnica da Administração Pública Municipal. Embora, na mídia que não conta a verdade, coloquem a culpa na chuva.

Com isso, a Baia de Canasvieiras está com os dias contados. Só nos restará, num futuro bem próximo, contemplar suas belezas... de longe!

Ou vamos descruzar os braços e exigir dos nossos representantes o tratamento de esgoto – real e eficiente - pelo qual, mensalmente, pagamos?



Ana Echevenguá, presidente do Instituto Eco&Ação.
(texto publicado no jornal Floripa Norte, edição 10, maio/2012)

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Saneamento Básico

Recentemente a prefeitura de Florianópolis terminou de elaborar o Plano Gestor de Saneamento Básico com metas especificas para quinze anos; plano este elaborado conjuntamente por técnicos da Companhia Catarinense de Águas e Saneamento - Casan, Companhia de melhoramento da Capital - Comcap, Secretaria de Obras e membros do Conselho Municipal de Saneamento composto por 18 entidades legitimadas por lei municipal. Este plano apresenta todos os passos a serem seguidos com metas a curto, médio e a longo prazo. Renovou também o contrato com a Casan para garantir água de boa qualidade e esgotamento de resíduos cloacais à população florianopolitana. Há dias participei de uma audiência pública na Câmara Municipal de Vereadores de Florianópolis presidida pelo vereador Cesar Faria (PSD), na ocasião técnicos da prefeitura garantiram que recursos estão assegurados para o saneamento básico, contudo alertam da necessidade de efetiva participação da sociedade na elaboração de projetos específicos, haja vista que recursos existem, contudo é necessário que estes projetos estejam bem fundamentados.

Não obstante, penso ser imperativo soluções urgentes dentro de um cronograma de ações para a efetiva resolução destes problemas notadamente aos moradores da Baía de Canasvieiras e região Norte da Ilha, dentre elas: maior participação da sociedade, das lideranças políticas e dos gestores públicos titulares detentores de cargos nas audiências públicas quando se tratar das questões de saneamento básico. Necessário ouvir os anseios da população e cobrar ações práticas da Casan para a região. Questão elementar, pois em cada real aplicado em saneamento básico, tem-se uma economia superior a quatro reais em assistência médica. Penso que recursos para saneamento básico existem, o que falta por parte da Casan é planejamento e projetos específicos à sua efetiva aplicabilidade, atualmente o que vem ocorrendo são meras soluções paliativas. Em nível de projetos a Casan está aquém das expectativas, pois apesar de ter uma concessão para vinte anos e a possível renovação para mais vinte anos, até hoje a Casan não tem um Plano de Aplicação, conforme foi dito em audiência pública.

Há poucos dias foi assinado pela prefeitura o convênio denominado Cidade Sustentável que garante a fiscalização de 18.000 domicílios residenciais e segundo a Casan para este ano estão assegurados investimentos para a Lagoinha, Praia Brava e Jurerê Tradicional e pequenas obras para a comunidade do Canto do Lamim em Canasvieiras.

Há décadas que a Baia de Canasvieiras e região norte da ilha vem sofrendo com a poluição de seus afluentes, em especial os Rios Papaquara e do Bráz em Canasvieiras, e o Rio Capivari em Ingleses, muita promessa e pouca ação concreta. Há problema de toda ordem e infelizmente a situação quanto as questões de saneamento básico para região de Canasvieiras e norte da ilha agrava-se e é preocupante.

Exemplo disso temos o bairro de Rio Vermelho com uma população de 20.000 habitantes que não tem estação de tratamento, porém vai ter uma rede coletora de esgoto. Já o bairro de Ingleses tem rede coletora e não tem estação de tratamento. Além disso, mesmo com a ampliação da estação de esgoto de Canasvieiras, penso ser insuficiente para receber a demanda do esgoto dos bairros adjacentes de Canasvieiras, haja vista que a demanda populacional é crescente e desordenada. Precisamos de soluções a curto, médio e longo prazo. Quanto à questão de água por ora está sendo bem operacionalizada, precisando de ajustes pontuais, mas o de esgotamento cloacal deixa a desejar.
O bairro de Coqueiros desde 1978 tem rede coletora mas até hoje nem todas estão ligadas e o mesmo vem ocorrendo em outros bairros da cidade em especial o de Canasvieiras. Carecemos de uma legislação municipal que garanta a efetiva fiscalização e penalidades cabíveis, pois de nada adianta os órgãos competentes fiscalizar, multar e não ter o poder de policia. Urge criar condições legais para melhor controle por meio de um projeto de lei municipal que determine regras; um exemplo seria o corte de água para os infratores e maior poder de policia na fiscalização das ocorrências.

Imperativo implantar projetos de educação ambiental, por meio de uma campanha institucional de abrangência estadual e municipal e maior rigor no controle aos licenciamentos de empreendimentos imobiliários, no controle migratório e de assentamentos e loteamentos clandestinos.

José Luiz Sardá – Geógrafo e morador de Canasvieiras

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Prática abusiva

Vamos falar de nosso bairro, Canasvieiras, mas sabemos que esta prática é comum em toda Floripa.
É o velho e bom problema das notinhas fiscais e dos descontos irrisórios, no comércio. Geralmente, o comerciante se faz de desentendido, vende a mercadoria, coloca o produto na sacola, entrega para o cliente e agradece. Depois de uma "longa" negociação, pedidos de descontos, etc., mesmo quando o pagamento é feito à vista e em dinheiro, o máximo que se consegue é 5%, não interessa o valor. E é em todas as lojas. Sem choro nem vela! Será que combinaram entre si?

Bem, e a nota fiscal? Em primeiro lugar, se o comerciante é sério, ele não espera o pedido da notinha, ele fornece. Simples assim! Só que não é o que acontece aqui neste paraíso, onde a lei é o ganha-ganha. Pra eles, ó óbvio! Aí, quando o cliente solicita a dita cuja, vem as caras de "não estou acreditando que este chato ainda pede isso", tanto da parte dos funcionários, como às vezes (quando estão presentes) dos próprios comerciantes.

Pior ainda! Muitos estabelecimentos não tem notas fiscais ou não autorizam os funcionários a fornecê-las, aí eles alegam que não sabem operar a "máquina", que ainda não receberam treinamento. Absurdo!
Os funcionários, coitados, não sabem como sair dessa saia justa, porque os patrões, no momento ausentes, deixaram ordens de assim procederem.

Outro dia, uma atendente nos disse que "quase ninguém pede notinha e além disso não precisa de nota para efetuar uma possível troca", desconhecendo o direito básico do consumidor ou sendo conivente com esta imoralidade.

O que nós, moradores que sustentamos o comércio, tanto no verão como no inverno, podemos fazer?
No mínimo, pararmos de fazer o jogo do contente, deixarmos de fingir que isso é normal, é assim mesmo e paciência...e EXIGIRMOS tratamento digno de cidadãos conscientes, que pagam seus impostos e não aceitam este tipo de situação.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

terça-feira, 1 de maio de 2012

Seção "Papo Cabeça": exemplo a ser seguido

Emissário no Campeche, não!

Fonte: Elaine Tavares


O Campeche decidiu e não havia nada mais a discutir. A obra do emissário não seria feita. Há anos a empresa de saneamento insistia no projeto. Fazer um grande cano levando a bosta da cidade para o mar. E a saída seria ali, nas águas da praia. Mas, a gente do lugar era assim, decidia e fazia cumprir. O prefeito – que nem nascera na cidade – desconhecia aquela força e, sem ligar, mandou a obra seguir. Do nada apareceram operários, máquinas, cimento, tijolos. Surdo aos desejos das gentes ele tocava para frente o emissário. O homem da empresa de saneamento jurava de pés juntos que o esgoto não poluiria a praia. “Vai sair longe, não chegará à margem”. E os repórteres reproduziam à exaustão as mentiras bem armadas. Não seria uma comunidade atrasada que impediria a cidade de se modernizar.

Dentro das casas, o povo esperava. Vez ou outra passava pela obra algum morador, de olhos compridos, espiando. As mulheres ressuscitavam bruxedos e nas noites de lua dançavam na praia, invocando poderes adormecidos. As crianças recolhiam ervas e bichos para as poções de encantamento. As velhas recitavam antigas orações achadas nos baús. Os mais jovens se reuniam na praia e socializavam entre eles os planos que se urdiam nas casas.

Então, numa noite de lua nova, quando a escuridão caia como um manto sobre a cidade, no Campeche não se viu qualquer luz. Escondidas pelo negrume, as pessoas saiam das casas, uma a uma, em direção ao rancho de canoa. Lá dentro os velhos faziam arder o caldeirão e só se ouvia o estalido da madeira, salpicando uma chama bem tímida. O mar se agitava, a maré bem cheia. O vento soprava terral, uivando, feito bicho.

No rancho, as gentes se postavam em roda. Um murmúrio baixinho embalava o girar da colher de pau no caldeirão. As mãos se fechavam umas nas outras, o murmúrio aumentava, e na noite de maio, aquele barulho de vozes humanas se fez ensurdecedor. Era como um vagalhão alucinado invadindo a cidade. Assustador.

Os homens da obra despertaram. O que era? As vozes, os murmúrios alucinantes, o cheiro de jasmim. Saíram para a rua e não viam nada. Era o breu. Lá longe, no mar, parecia assomar uma vaga de água, alguma coisa mais escura do que a própria noite. Os cabelos arrepiaram, o coração parou. “Bem que avisaram que aqui tinha bruxa”, disse um. “Bobagem”, disse outro, enquanto sentia um bafo quente na nuca. A fumaça ou sei lá o quê foi adensando e cobriu a obra, com gente e tudo. A estação de tratamento, quase pronta, sumiu na bruma. Houve barulho de lata, prego, cano. Tudo esboroava. Os trabalhadores amoleceram e perderam os sentidos. Na escuridão do Campeche só a fumaça e o murmúrio eram constantes.

No centro da cidade, o prefeito acordou enregelado. Um aperto no peito, uma sufocação. Levantou e foi tomar água. Espiou pela janela e petrificou. Lá fora, envolta na escuridão, uma mulher bem alta, branca como a lua, olhava para ele com olhos de fogo. Não disse palavra. Apenas o olhar, assustador, felino. O prefeito voltou para a cama como um autômato. Dormiu num segundo.

Quando o dia amanheceu no Campeche já não havia obra. Alguns homens atordoados se perguntavam o que faziam tão longe de casa. As pessoas os acolhiam com um chá quente e logo foram embora, sem saber o que passara. No gabinete do prefeito, quem chegara nem de longe parecia o jovem ariano, pretencioso. Como um zumbi, se debruçou sobre os papéis e começou a babar. Nunca mais foi o mesmo. Vieram médicos, psicólogos e especialistas, sem encontrar cura. O vice, que era filho do lugar, sumiu no mundo. Ninguém mais soube dele. O presidente da companhia de saneamento esqueceu os últimos setes anos e foi viver em um sítio em Antônio Carlos.


Na praia, as pessoas seguiam suas vidinhas. Jogar a canoa no mar, colher o peixe, um violão ao anoitecer, o terno de reis, a bandeira do divino, a festa de são Sebastião, as ruas sem asfalto, as damas-da-noite com seu cheiro doce, o pão-por-deus. O tal emissário que jogaria a bosta da cidade no mar? Nunca mais se ouviu falar. E quando alguém do poder tenta trazer à memória esse “monstro de cocô”, as mulheres se entreolham e balançam a cabeça furtivamente. É quando uma fumaça densa e escura começa a se formar... Ninguém brinca com o povo do Campeche, não... Ah, não...!